Vamos celebrar a
indiferença
Celebrar essa podre
sociedade
A ambição imensurável
A maldade
O egoísmo palpável
Vamos sentar em meio
Ao lixo
Levantar os velhos
Ao céu
Escuro, sujo, molhado
Molhado de lágrimas
Chovendo sangue
Dos corpos que voam
Sem vida
E que caem
Nada daqui os espera
Além da
Além da terra batida
Os sinos não soam
(os corpos voam)
O mundo não para
Canções secas
Lúgubres
E percebem a pobreza
A pobreza física
A pobreza mental
A cólica natural
Dessa rotina global
Rotina robótica
Sair de casa
Xingar no trânsito
Escapar da bala
A bala perdida
Da arma da criança
(criança esquecida)
Chegar ao trabalho
Pisar nas pessoas
Destruir algumas vidas
De preferência
As mais sofridas
Depois voltar para casa
Dar um beijos na esposa
Abraçar os dois filhinhos
E nem se perguntar
O porquê disso
Deitar na cama
Ver o telejornal
Com as notícias de sempre
As mortes por suicídio
Por assassinato
Por pura falta de sorte
(vamos celebrar a morte)
A desgraça do fraco
A fortuna do forte
A corrupção
A destruição
Um mundo sem coraçõa
O homem adormece
E agradece
A algum deus
Por mais um dia feliz
Fernanda Soares
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